Dr Julio José Máximo de Carvalho
Urologista
Vários estudos evidenciam que a infecção pelo papilomavírus humano (HPV) se apresenta como verruga visível em aproximadamente 20% dos casos.
A grande maioria dos casos de infecção genital pelo HPV em ambos os sexos é subclínica ou latente, não detectável à vista desarmada, e para o seu diagnóstico são necessários exames como a peniscopia, que permite evidenciar as lesões suspeitas e possibilita a coleta de material para estudo histológico e biologia molecular.
Já sabemos da importância da peniscopia como método de alta sensibilidade para identificar lesões suspeitas, e da biologia molecular como método de alta especificidade para confirmar a presença do DNA do HPV no local suspeito; sabemos, também, que o estudo histológico isoladamente pode resultar em superdiagnóstico.
A incidência de câncer de colo uterino é alta, considerado a segunda neoplasia mais frequente na mulher, e está bem estabelecida a associação entre o HPV e este tipo de câncer. No entanto, a incidência de câncer peniano, bem como a sua associação com HPV, é bem menor, referindo-se a 30%- 50% dos casos. Deste modo, o homem é hoje considerado portador assintomático do vírus.
Estudos recentes evidenciam a importância do sistema imunológico na contaminação, na recidiva e eliminação deste vírus. Dessa maneira, podemos entender por que algumas pessoas têm maior predisposição que outras, o que justifica a presença deste vírus em ambos os parceiros em apenas 40% dos casos.
Não devemos nos esquecer que a infecção pelo HPV é a DST mais frequente atualmente, e o homem deve ser avaliado de maneira mais ampla, não apenas como o parceiro de uma mulher infectada, ou que seu tratamento possa interferir na melhora de sua parceira; mas devemos avaliar os homens como portadores de uma infecção muito frequente, e que podem estar transmitindo-a silenciosamente.
Sabemos que existem várias situações que predispõem o homem mais frequentemente para a infecção por esse vírus, tais como:
a – presença da infecção em sua parceira;
b – excesso de prepúcio e fimose;
c – balanite de repetição;
d – multiplicidade de parceiras;
e – algumas DST (uretrite, etc.).
A pesquisa da infecção pelo HPV deve ser realizada, tanto nos parceiros de mulheres com HPV, como nos homens com suspeita de estarem infectados por esse vírus.
INDICAÇÃO DE PENISCOPIA
1 – parceiros de mulheres com HPV e neoplasia de colo uterino;
2 – homens com balanopostite de repetição;
3 – homens com outras DST;
4 – homens que apresentaram verrugas no passado;
5 – pacientes com múltiplas parceiras;
6 – exame pré-nupcial
7 -início de novo relacionamento, a pedido do casal.
AVALIAÇÃO DO HOMEM COM SUSPEITA DA INFECÇÃO PELO HPV
Inúmeros trabalhos encontrados na literatura mundial enfatizam a dificuldade de realizar um diagnóstico preciso de HPV. Hoje está claro que não existe um exame único isolado que permita o diagnóstico de certeza.
A peniscopia, vulvoscopia, vaginoscopia, colposcopia localizam lesões suspeitas; não temos certeza de que aquelas alterações encontradas são causadas pelo HPV.
Quando encaminhamos o material para histologia, podemos evidenciar alterações que sugerem a presença do vírus; também não é certeza que existe a infecção, porém esse exame é importante para fazer o diagnóstico diferencial com outras doenças. E, finalmente, hoje podemos contar com testes de biologia molecular que identificam a presença do vírus evidenciando o seu DNA. Dessa maneira, precisamos localizar lesões suspeitas e nelas pesquisarmos a presença do vírus.
A sensibilidade de um método consiste na identificação dos pacientes possivelmente infectados. Quanto mais sensível for o método, maior possibilidade de definir a infecção. Isso não significa que esses pacientes estejam infectados.
Por isso, o método tem de ter alta especificidade, ou seja, deve permitir distinguir, entre os pacientes suspeitos, aqueles que não têm a infecção. A peniscopia tem alta sensibilidade e os métodos de biologia molecular, alta especificidade.
GENITOSCOPIA
A genitoscopia consiste no exame da região genital masculina que inclui: pênis, uretra, escroto, pube, região inguinal e região perineal, ela tornou-se um método muito importante para localizar as lesões suspeitas de estarem infectadas pelo HPV, por permitir o diagnóstico de lesões subclínicas no homem assintomático.
TRATAMENTO
Existem inúmeras modalidades de tratamento nos dias de hoje, e, quando isto acontece deixa-nos claro que nenhum deles é o ideal.
Sendo assim, o tratamento vai depender de alguns fatores:
a. Da confirmação da presença do vírus;
b. Se ele é ou não oncogênico;
c. Da quantidade de vírus (carga viral) no material examinado;
d. Localização das lesões (se localizado ou disseminado);
e. Tamanho das lesões.
TIPOS DE TRATAMENTO
Os tipos de tratamento foram classificados em químico, quimioterapia, imunoterapia, cirurgia, homeopatia e psicoterapia.
MEDIDAS DE APOIO AO TRATAMENTO
São indicadas medidas de apoio ao tratamento:
– Associação de vitaminas para aumentar a resistência,
tais como a vitamina A, complexo B e C.
– Medidas higiênicas e cuidados locais.
– Pausa sexual e utilização de preservativos.
– Apoio psicológico individual e ao casal.
– Orientação quanto à dieta, fumo e avaliação da parceira.
Atualmente, a cauterização a laser é muito utilizada pelos seguintes motivos:
– Não tem contato direto com a lesão, evitando transmissão;
– Cicatrização rápida;
– O laser é bactericida, portanto tem menos chance de infecção;
– Cicatrização inaparente. É importante o aspecto cosmético, pois qualquer cicatriz na região genital pode ocasionar situações constrangedoras.
Nos casos recidivantes e multifocais, associa-se tratamento imunológico tópico Imiquimod e/ou sistêmico Interferon Beta Recombinante.
Na escolha do método terapêutico deve-se ter em mente alguns fatores, como idade, local, extensões da lesão, possibilidade de regressão espontânea, risco oncogênico, sintomas, difusibilidade e estado de ânimo do paciente.
Não existe um único tratamento ideal e a decisão do método ideal vai depender do tipo de lesão, sua localização, sua extensão, opinião do paciente e poder aquisitivo.
Após o tratamento é necessário enfatizar a necessidade do seguimento continuado do paciente, repetindo os exames de citologia, genitoscopia, biópsia quando necessário, pesquisa do HPV, a fim de se identificar possíveis recidivas e tratá-las. Recomenda-se realizar a avaliação após 45 dias de instituído o tratamento, e considerando como alta quando o resultado em dois exames subsequentes for negativo.
Em 1999, conversando com especialistas de diversas áreas, pude observar a grande discrepância nas opiniões e condutas, e senti que seria interessante promover um estudo multidisciplinar, e nasceu o I Consenso Brasileiro sobre o HPV, que tive a oportunidade de coordenar. O consenso foi transformado em um livro, com o intuito de preparar os médicos para a grande demanda de pacientes portadores desta infecção, ajudando-os, também, a amenizar suas angústias.
Tive a oportunidade de ser o responsável pelo treinamento e monitoramento do “Projeto HPV” da Cidade de São Paulo, da Área Temática de DST/Aids da Secretaria Municipal de Saúde em 2002 a 2003, treinando médicos de unidades básicas para o atendimento da população mais carente, masculina e feminina, com a infecção pelo HPV.
Atualmente muitas pessoas ouvem falar em HPV e se perguntam o que isso significa. Por que tanta preocupação com esse vírus? Será que é mais uma doença de moda? Devo mesmo me preocupar? Como devo me comportar?
Com o objetivo de esclarecer estas questões de maneira simples, abordando as principais dúvidas em forma de perguntas, e levando em consideração os conceitos mais aceitos na literatura mundial atual, foi lançado o livro “Falando sobre o HPV”, em 2003, na Semana Municipal de Prevenção ao HPV, no Salão Nobre da Câmara Municipal de São Paulo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Fica evidente a preocupação com um diagnóstico preciso dessa infecção, uma vez que acarreta mudanças de hábitos sexuais, constrangimento, sentimento de culpa e problemas conjugais, chegando muitas vezes a separações de casais.
Quando o homem apresenta uma lesão verrucosa, visível, o diagnóstico é mais fácil, porém nos casos de lesões subclínicas a situação já é mais difícil. Nesses casos, a lesão deve ser localizada através de uma peniscopia minuciosa, localizando as lesões suspeitas e colhendo material para estudo histológico e de biologia molecular.
Tanto a coleta de material para diagnóstico (biópsia) como o tratamento somente devem ser instituídos se o paciente apresentar algum tipo de lesão.
Encontramos muitos homens com lesões verrucosas, mas que não se preocupam com elas. Daí a importância de orientar o paciente na realização do auto-exame, para constatar a presença de alguma verruga na região genital.
Dr Julio José Máximo de Carvalho
Urologista
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