Ainda que as autoridades médicas orientem o parto normal como a melhor opção para o nascimento de um bebê, muitas gestantes acabam sendo submetidas a uma cesariana, seja por opção ou por indicação médica. Para se ter uma ideia do cenário, aproximadamente 55% dos partos realizados no Brasil são cesáreas — valor que está muito acima da taxa ideal de 10% sugerida pela comunidade médica internacional.
A questão é que existem, de fato, algumas condições clínicas ou obstétricas que podem fazer com que uma cesárea seja fundamental. Isso ocorre especialmente em casos de perigo iminente para a gestante e/ou o bebê. Assim, a cirurgia é capaz de salvar muitas vidas, contribuindo com a redução de mortalidade materna e neonatal.
Segundo o Ministério da Saúde, atualmente, a indicação absoluta de parto cesariana é feita para os seguintes casos:
- Placenta prévia (centro-total ou centro-parcial);
- Placenta acreta (condição na qual a placenta se implanta e adere ao músculo uterino, impedindo sua separação do útero no pós-parto);
- Feto pélvico a partir da 36ª semana (quando o bebê está “sentado” e o procedimento Versão Cefálica Externa não surtiu resultados);
- Mães infectadas pelo vírus HIV;
- Mães infectadas pelo vírus da herpes simples durante o terceiro trimestre da gestação e em caso de infecção ativa no momento do parto.
O ginecologista e obstetra do Sistema Público de Saúde (SUS), Rogério Tibet, acrescenta ainda outras situações que podem demandar uma cesárea, como: prematuridade extrema; sofrimento fetal; e risco iminente de morte materna. A depender do caso, é possível que a cirurgia seja programada — a fim de garantir maior segurança para o nascimento.
Como é feita a anestesia na cesárea?
Por se tratar de uma operação cirúrgica, em que é feito um corte profundo acima do púbis da gestante para que o bebê retirado, a anestesia utilizada durante a cesárea deve garantir a abolição ou diminuição da sensibilidade dolorosa e dos movimentos dos membros inferiores — o que impossibilita a gestante de mexer as pernas.
Nesse tipo de parto, a anestesia mais utilizada é a raquidiana, aplicada na região dorsal, no espaço entre as vértebras. Sendo uma anestesia parcial, ela possibilita que a paciente mantenha a consciência durante todo o procedimento, sem sentir sono ou qualquer sensação de moleza, e seus efeitos costumam durar cerca de 3 horas, no máximo.
Além de possibilitar que a mãe veja o bebê após o nascimento, essa anestesia também permite que a mulher amamente seu filho logo ao nascer, na chamada “golden hour”. Esse primeiro contato pele a pele, inclusive, é essencial para elevar os níveis de ocitocina, o que leva à uma descarga de prolactina no organismo materno, favorecendo a amamentação.
A gestante é sedada durante o parto cesárea?
Como vimos, é importante que a mulher esteja consciente durante a cesárea para que ela possa participar ativamente do nascimento do filho. Porém, há casos em que pode ser necessária a sedação da gestante.
Embora não seja comum, essa prática ocorre em situações em que a paciente apresenta problemas que podem prejudicar o andamento da cirurgia, de acordo com Ana Claudia Galdez Monteiro, anestesiologista e coordenadora da equipe de anestesistas do Hospital Albert Sabin.
“Tem mãe que, devido à forte emoção, começa a ter crises de ansiedade, ataques de pânico, por não estar mexendo a perna, por exemplo. Então, para não atrapalhar o procedimento cirúrgico e para a sua segurança, ela é sedada. Mas é a exceção da exceção, raramente isso acontece”, explica a especialista.
No geral, existem três tipos de sedação, que se diferenciam pelo nível de consciência da gestante. São eles:
- Sedação leve: nesse tipo de procedimento, a paciente mantém seu nível de consciência e só permanece um pouco mais relaxada. É utilizado para atenuar casos de ansiedade e estresse da gestante;
- Sedação moderada: devido à ação medicamentosa, a paciente tem o nível de consciência comprometido e só é acordada após um curto período, com estímulos verbais;
- Sedação profunda: coloca a paciente em situação de mínima consciência, de modo que ela somente responde a estímulos dolorosos e não tem sua capacidade respiratória tão afetada.
Qualquer anestesista que precise aplicar sedação na gestante no decorrer ou após o parto precisa informar a paciente e ter o seu consentimento para realizar o procedimento. O médico também deve justificar o ato em um relatório feito após a cirurgia — ou seja, tudo que acontece dentro da sala cirúrgica deve ser documentado.
Quando a anestesia geral é indicada?
Diferente da sedação, há também os casos em que a anestesia geral seja indicada. Este tipo de procedimento deixa a paciente totalmente inconsciente durante a cirurgia, sem sensibilidade (não sente qualquer estímulo doloroso) e imóvel. Ele só é indicado em situações de extrema urgência ou quando há risco iminente de morte fetal, conforme explica Rogério Tibet.
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Por limitar todos os estímulos físicos da paciente devido ao forte efeito do medicamento aplicado, a anestesia geral também afeta a capacidade de movimentação dos músculos que envolvem a respiração. Portanto, a gestante necessita de suporte ventilatório invasivo (intubação), ao contrário do que ocorre na sedação, em que utiliza-se uma máscara de oxigênio.
Além disso, segundo a anestesiologista Ana Cláudia Monteiro, ela pode ocorrer em casos em que a mãe tem diagnóstico de cardiopatia grave, como estenose aórtica — e é indicada por um cardiologista. Ela também pode ser aplicada em casos em que a gestante apresenta convulsões durante o parto, a fim de preservar a vida dela e do bebê.
Todavia, é importante destacar que este tipo de anestesia exige que o procedimento seja feito rapidamente, uma vez que a substância, ao ultrapassar a barreira hematoencefálica, pode atingir o bebê. Portanto, é essencial que os profissionais envolvidos na cirurgia avaliem prós e contras do procedimento.
Anestesia em parto normal
Ao contrário da cesárea, o parto normal exige a participação ativa da gestante. Entretanto, a mulher pode solicitar a aplicação de uma anestesia que tem como objetivo a amenização da dor, especialmente por conta das contrações e da força que a mãe precisa fazer para que o bebê nasça.
Segundo a médica Ana Cláudia Monteiro, a mais utilizada é a anestesia peridural, mas com baixa dose anestésica. Nesses casos, a paciente continua sentindo as contrações uterinas, mas há diminuição expressiva das dores — o que pode facilitar a condução do trabalho de parto.
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