Gestação X Depressão

Dra. Maria Carolina Pinheiro
Psiquiatra

A perspectiva de chegada de um bebê gera uma série de complexas transformações em uma mulher. Com variáveis físicas e talvez mais óbvias, mas também com diversas mudanças psicológicas. Ainda que seja uma gravidez desejada é um período de transição que envolve medos, preocupações, aumento de necessidades e expectativas (com elas algumas frustrações). Não raramente a mulher grávida adota uma postura ambivalente na qual estes sentimentos dificultam o encontro da gratificação deste período tão intenso e bonito.

Posto tudo isto fica fácil observar que o processo da gravidez é um campo em potencial para o desenvolvimento de quadros de ansiedade e alteração do humor. Durante muitos anos acreditou-se que a gravidez protegia contra transtornos mentais, porém hoje esta afirmativa é refutada pelos estudos. Transtornos de humor ( depressão, bipolar, distimia…) e transtornos ansiosos são comuns em gestantes. Estima-se uma prevalência de depressão na gravidez da ordem de 7,4% no primeiro, 12,8% no segundo e 12% no terceiro trimestre.

Sabe-se que a doença mental ativa ( não tratada) durante a gestação e no período pós parto também pode afetar profundamente a relação mãe-filho, assim como o desenvolvimento da criança. Ademais a depressão não tratada pode ocasionar aumento de complicações obstétricas, como abortamento, parto prematuro e nascimento do bebê com baixo peso.

E então o que fazer quando se questiona um quadro de ansiedade patológica ou um transtorno depressivo em uma grávida? Muitas mulheres, assim como seus familiares, ficam bastante angustiados se a gestante em questão necessitar tomar psicotrópicos neste período. Muitas vezes o assunto é polemizado pelos próprios médicos obstetras e psiquiatras. E então nos resta recorrer a ciência. O que os estudos mostram?

A primeira e mais importante premissa é que se faz necessário avaliar cada caso em particular e com especial atenção, a fim de estabelecer-se a melhor estratégia de tratamento para cada situação e da maneira mais precoce possível. O tratamento medicamentoso é uma das formas possíveis de tratar a depressão e não a única e por isto deve-se ponderar quando ele se torna necessário. Além de estudos com intervenções farmacológicas, estudos focados sobre psicoterapia interpessoal e estratégias cognitivo comportamentais têm-se também evidenciado eficientes.

A decisão de iniciar o uso de antidepressivo na gestante, avaliando risco-benefício, é um processo decisório complexo que envolve a necessidade de uma interação constante entre paciente, família, obstetra e psiquiatra. Estabelecer uma aliança terapêutica é fundamental, assim como expor os riscos situacionais, ou seja, tanto da escolha pelo uso do medicamento, quanto da escolha de não optar pelo tratamento farmacológico.

Se por um lado o uso do medicamento durante a gestação envolve risco de toxicidade fetal, malformações físicas, prejuízo de crescimento, teratogenicidade comportamental e toxicidade neonatal. ( Claro todos estes minimizados na escolha de um antidepressivo mais seguro *). Por outro, o transtorno mental ativo poderá trazer muito mais danos ao feto. Isto porque o estresse, efeito sobre o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, especialmente com o aumento de cortisóides, pode ser extremamente prejudicial ao concepto.

Por fim, vale lembrar que a presença de ansiedade ou depressão na gestação é o fator de risco mais forte associado a sintomas depressivos no puerpério. A depressão puerperal, não tratada, dificulta muito o vínculo entre a mãe e o bebê e tende a interferir no desenvolvimento saudável da criança.

Em suma: Você está grávida e acredita ter um transtorno ansioso ou depressivo? Fale disto com sua família, com seu médico obstetra ou com seu psiquiatra. Não podemos subestimar os transtornos mentais neste período ou deixar de tratá-los. Medicamentos não são a única opção e se necessário for, seu médico pode lhe informar as ponderações desta escolha. É necessário valorizar não somente os riscos possíveis pelo uso da medicação, mas também aqueles que os quadros psiquiátricos podem oferecer. Tanto à futura mãe, quanto à criança que vai nascer.

Dra. Maria Carolina Pinheiro
Psiquiatra
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