Dra. Naira Scartezzini Senna em entrevista concedida para o portal Dicas de Mulher
Ele atua em nosso organismo todos os dias, causa variações que afetam desde as nossas emoções até o rendimento físico e, ainda assim, já reparou como às vezes parece que resumimos o ciclo menstrual única e exclusivamente à menstruação? É verdade que ela traz alguns dos impactos mais visíveis no dia a dia, mas, acredite, entender que o ciclo menstrual vai muito além dela não é útil só para médicos ou interessados em biologia. É sim uma forma de entrar em contato com o nosso corpo e até de fazer as pazes com ele, tirarando proveito de cada mudança que ele passa. “Conhecendo melhor seu ciclo menstrual você pode priorizar atividades físicas, comportamentais, e escolhas alimentares que amenizem naturalmente os sintomas incômodos”, explica a ginecologista Dra. Naira Scartezzini Senna. Confira a seguir um guia sobre o assunto, elaborado com a ajuda da especialista! Entendendo o ciclo menstrual| Ora causando mais impacto, ora quase passando despercebido, o ciclo menstrual compreende todo o período que vai do primeiro dia da menstruação até o dia anterior ao início da menstruação seguinte. Embora seja comum falar em 28 dias como regra, a Dra. Naira explica que a única forma de saber com certeza quanto tempo dura o seu ciclo é fazendo o acompanhamento. “A duração pode variar de um organismo para outro, normalmente as mulheres apresentam ciclos normais com intervalos de 23 a 35 dias”, diz. Do contrário, vale a pena consultar o ginecologista. Seja qual for a duração do seu ciclo, é importante saber que quem comanda são os hormônios. São eles os responsáveis pelos processos e mudanças que ocorrem durante as três fases do período menstrual: folicular, ovulatória e lútea. 1. Fase folicular: é a primeira fase do ciclo menstrual, com duração que pode variar de 5 a 12 dias. Nela, a glândula hipófise aumenta a produção do hormônio folículo-estimulante (FSH), responsável pelo amadurecimento dos folículos que contém os óvulos. Mais maduros, os folículos começam a produzir o estrogênio, hormônio responsável pelo revestimento do útero. Na prática, a fase folicular é sinônimo de menstruação com todos os seus sintomas, mas também de uma crescente melhora no humor e no bem-estar graças ao aumento nos níveis de estrogênio, testosterona e ocitocina. Também graças ao aumento do estrogênio, a disposição, a força, a concentração e o rendimento físico aumentam no fim desta fase (período pós-menstruação). De quebra, o clitóris fica mais sensível e a libido começa a aumentar progressivamente. 2. Fase ovulatória: ocorre no meio do ciclo e é a fase mais curta de todas, com uma duração que não costuma passar de 36 horas. O aumento do nível de estrogênio leva o corpo a produzir o hormônio luteinizante, responsável por liberar o óvulo mais maduro do ovário. Na prática, o pico de estrogênio alcançado no fim da fase anterior faz com que tanto a pele quanto o cabelo fiquem com um aspecto bonito e saudável nesta fase. Para completar, o nível de testosterona sobe, fazendo com que a confiança e a libido aumentem. Apesar de em menor intensidade que no fim da fase anterior, a disposição continua em alta. 3. Fase lútea: é a última e mais temida fase do ciclo menstrual, com duração entre 11 e 16 dias. Nela, ocorre uma inversão hormonal, com queda da testosterona e do estrogênio, e aumento da progesterona. Após a ovulação, o folículo responsável pela liberação do óvulo se fecha e forma o chamado corpo lúteo, estrutura responsável pela produção de progesterona. É esse hormônio que irá engrossar o endométrio a fim de deixá-lo apto a receber um possível óvulo fecundado. Apesar de oscilante, o estrogênio ainda atua no início desta fase, o que equilibra um pouco as coisas no começo. Mas, na prática, a gente sente a fase lútea em três letrinhas: TPM. Com uma noção básica das fases, das mudanças hormonais, do porquê elas ocorrem e qual o impacto que elas têm no nosso organismo, é hora de desvendar alguns dos momentos mais emblemáticos do ciclo menstrual.
Menstruação
Pontapé inicial do ciclo, a menstruação é a descamação da camada interna do útero (endométrio). Em poucas palavras, Dra, Naira explica que “nada mais é do que o descarte feito pelo organismo do revestimento criado dentro do útero para receber um embrião caso ocorra fecundação”. Assim como o restante do ciclo, não dá para falar em uma duração exata, mas costuma durar de 2 a 6 dias, normalmente com maior intensidade no começo. No que diz respeito ao fluxo, Dra. Naira esclarece que a quantidade de sangue coletada durante o período menstrual costuma coincidir com ¼ de xícara, ou, em termos mais práticos, “o uso de 4 absorventes ao dia em média”, diz. Quanto às maneiras em que a menstruação afeta o dia a dia, a combinação de baixo nível de progesterona e aumento gradual de estrogênio, teoricamente, deveria eliminar os sintomas da TPM e aumentar a sensação de bem-estar ao longo da semana. Na prática, no entanto muitas mulheres apresentam sintomas como fraqueza, dor de cabeça, tontura, náusea, depressão, diarreia e cólica ao longo da menstruação. Diversas são as causas desse quadro clínico. Começando pela perda de sangue, ela diminui o ferro do organismo, o que pode refletir em fraqueza, tontura e sintomas de depressão. Soa familiar? Então é só reforçar o consumo de alimentos ricos em ferro como couve, grão-de-bico e castanhas no período! Já seu fígado tem um papel importante na metabolização do estrogênio, que deve estar regulado para garantir o bem-estar e evitar enxaquecas menstruais. Por isso, durante a menstruação, é importante não sobrecarregá-lo, evitando o consumo de álcool e de alimentos gordurosos. Por fim, as cólicas são causadas pelas prostaglandinas, lipídios produzidos após a ovulação que provocam a contração de vasos sanguíneos e de musculaturas lisas. Depois do rompimento do tecido no endométrio, são as prostaglandinas que atuam no útero fazendo-o contrair para expulsá-lo. Quando produzidas em excesso, essas substâncias causam não só cólica, como também as diarreias menstruais, já que elas podem atingir o cólon. Como antídoto, por dilatarem os vasos sanguíneos, bolsas de água quente são tiro e queda, assim como uma dieta rica em fibras para regular o intestino.
Ovulação Como o próprio nome sugere, a ovulação é o evento que caracteriza a fase ovulatória. Ela ocorre quando o estrogênio estimula a produção do hormônio luteinizante que, por sua vez, induz a saída do óvulo do ovário. O processo é bastante rápido: depois do pico de hormônio luteinizante, demora de 10 a 12 horas para o óvulo ser liberado. Depois disso, ele tem só 24 horas para ser fecundado, o que corresponde ao dia mais fértil da mulher. Caso não ocorra a fecundação nesse período, o óvulo degenera. Com exceção de um aumento na libido que marca mais o período que o dia da ovulação em si, é um evento quase assintomático. Em raríssimos casos, algumas mulheres podem sentir uma pontada no lado do ovário que liberou o óvulo. Como, mais uma vez, não dá para determinar uma data exata para a ovulação, visto que ela ocorre no meio do ciclo e ele pode variar de mês para mês, quem quer engravidar precisa contar com os pequenos sinais que o corpo manda. “Nesta fase, mais comumente, pode-se notar o surgimento de uma secreção vaginal mais translúcida e filante, semelhante a clara de ovo, que é receptiva ao esperma”, explica Dra. Naira.
Período fértil
Ovulação e período fértil são a mesma coisa? A resposta é não exatamente, embora a ovulação ocorra durante o período fértil, que vai de 5 a 6 dias antes da ovulação até 1 dia depois que ela acontece. Para entender melhor, é só lembrar que a fecundação ocorre quando há o encontro do óvulo com o espermatozoide, gametas com tempo de vida diferentes. Enquanto o óvulo tem só 24 horas para ser fecundado antes de degenerar, o espermatozóide sobrevive por até 5 dias, o que quer dizer que ele pode já estar lá quando o óvulo for liberado, permitindo a fecundação. Em tempo, de acordo com estudos, a maior parte das gravidezes não ocorre quando há relação sexual no dia da ovulação, e sim quando ela acontece cerca de três dias antes da liberação do óvulo, dando mais tempo para o espermatozoide passar pela vagina e pelo muco cervical. Nesse sentido, vale lembrar que, apesar dos eventos pontuais, os hormônios atuam durante todo o ciclo, já estando em níveis mais altos antes de alcançarem seu pico. Sendo assim, durante o período fértil, o muco cervical já se encontra mais viscoso e permeável, sendo possível acompanhar essa mudança através da já mencionada secreção clara de ovo, assim como por meio da medição do hormônio luteinizante na urina.
TPM
O tema é tão popular quando o assunto é ciclo menstrual que, com frequência, acaba sendo até banalizado, o que é um enorme desserviço, já que se trata de um quadro clínico real e que afeta muito nosso dia a dia, seja nas atividades cotidianas, no trabalho ou nos relacionamentos. Principal evento da fase lútea, a tensão pré-menstrual é o resultado da queda do estrogênio e do aumento da progesterona, produzida pelo corpo lúteo. Em outras palavras, enquanto de um lado a diminuição do estrogênio ocasiona uma queda nos níveis de serotonina, fazendo com que a gente se sinta deprimida, ansiosa, irritadiça e com muita vontade de comer doces; de outro, a progesterona, com seu efeito sedativo, também não facilita nossa vida. Isso porque, no processo de fecundação, a progesterona tem o papel essencial de engrossar o endométrio e de reservar nutrientes para o caso de o óvulo ser fecundado. Para isso, ela retarda o funcionamento do intestino. O resultado muitas mulheres já conhecem: prisão de ventre e retenção de líquido. Outro efeito da progesterona que caracteriza um sintoma da TPM é a dilatação dos dutos de leite, deixando os seios doloridos e sensíveis. E há, ainda, um estudo conduzido pela Universidade Uppsala, na Suécia, que relaciona a progesterona ao estímulo da amígdala cerebral, um grupo de neurônios responsável por colocar o organismo em estado de alerta, causando medo, ansiedade e insônia. Mas, calma, antes de se rebelar contra a progesterona, vale lembrar que sua atuação é natural e faz parte de um ciclo equilibrado, ajudando a manter os níveis de cortisol, de ferro e de vitamina D sob controle. Por isso, para driblar os sintomas da TPM, a recomendação é manter hábitos saudáveis. Praticar exercícios aeróbicos leves e ter boas noites de sono, por exemplo, ajuda a estabilizar os níveis de serotonina. Já beber bastante água e manter uma dieta balanceada – rica em grãos, vegetais, alimentos pouco gordurosos e com baixo teor de sódio – ajuda a regular o intestino e a combater a retenção de líquido. O chocolate 70% cacau também é superindicado para a TPM, pois ajuda a repor o magnésio que a gente perde nessa fase! Em geral, a TPM ocorre entre 2 a 10 dias antes da menstruação e desaparece assim que começa o sangramento. Caso os sintomas persistam, o ideal é procurar um médico a fim de descobrir se existe algum outro problema de saúde por trás deles.
Aplicativos para você baixar que vão te ajudar a entender o seu ciclo menstrual
Em um primeiro olhar, monitorar o ciclo menstrual parece ser uma tarefa simples. É só contar a partir do primeiro dia da menstruação até o dia anterior à menstruação seguinte. A ovulação ocorreria na metade desse período e um novo ciclo iniciaria na sequência, sempre em intervalos iguais. Como na prática não funciona bem assim e poucas mulheres acompanham o ciclo no calendário, aplicativos são bastante úteis na hora de ajudar a prever as mudanças e se preparar para elas. Confira abaixo algumas sugestões!
- Clue (Android e iOS): Presente em 5 a cada 5 listas com os melhores aplicativos para acompanhar o ciclo, o Clue é gratuito e tem como principal atrativo um funcionamento amigável que permite registrar variações de humor, a fim de verificar padrões ao longo do ciclo. Ele também avisa sobre a chegada de menstruação, período fértil e TPM.
- Flo Calendário Menstrual (Android e iOS): Outro aplicativo bastante completo, o Flo permite registrar sintomas, humor, relações sexuais, exercícios e até a ingestão de água durante o ciclo. Com isso, ele gera gráficos, estabelece padrões e consegue dar dicas para aliviar os sintomas de cada fase.
- Eve. (Android e iOS): Ainda não disponível em português, o Eve. encanta por sua proposta divertida e voltada para a melhora da vida sexual. Entre suas funcionalidades estão dicas e curiosidades sobre sexo, a possibilidade de registrar variações durante o ciclo e o divertido cyclescope, espécie de horóscopo adaptado para prever seu dia de acordo com os hormônios.
- Maia (Android e iOS): Com um design para lá de gracioso, o Maia tem ícones desenhados que lembram anotações em um diário para registro de humor, peso e temperatura. Mas, diferente do diário clássico em papel, ele te avisa com boa precisão sobre período fértil, TPM e menstruação, entre outras funcionalidades.
- Ovuview (somente Android): Excelente opção para quem deseja engravidar, o OvuView traz, além do calendário menstrual tradicional, lembretes de medição da temperatura corporal, gráficos de temperatura e de sintomas, apresentação de métodos comprovados de detecção de fertilidade, entre outros.
Faça o teste e acompanhe seu ciclo atentando para as necessidades do seu corpo! Ele tem tudo para retribuir com uma TPM e com uma menstruação muito mais tranquilas.
Dra. Naira Scartezzini Senna em entrevista concedida para o portal Dicas de Mulher
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