Com a chegada do Outubro Rosa, campanha anual de conscientização sobre o câncer de mama, é essencial incluir no debate questões relacionadas à saúde de mulheres vivendo com HIV/aids. A Agência Aids entrevistou a infectologista Dra. Cláudia Mello, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, e a ginecologista Dra. Naira Scartezinni, que esclareceram a relação entre o HIV e o câncer de mama, além de reforçar a importância do acompanhamento médico regular para garantir melhores desfechos de saúde.
Segundo as especialistas, não há um risco significativamente aumentado de câncer de mama entre mulheres vivendo com HIV quando comparado à população em geral. No entanto, Dra. Cláudia Mello explicou que, embora o risco não seja alarmante, é necessário considerar que o HIV mantém o corpo em um estado de inflamação crônica, o que pode aumentar a probabilidade de desenvolver outras neoplasias.
“As pessoas vivendo com HIV têm, em geral, um risco maior de desenvolver certos tipos de câncer, principalmente devido ao estado hiperinflamatório provocado pela presença constante do vírus no corpo”, detalhou Dra. Cláudia.
Dra. Naira Scartezinni Senna complementou que o tratamento antirretroviral (TARV) tem um papel crucial na redução dos riscos de complicações de saúde, incluindo a prevenção de outras doenças graves. No entanto, ela alertou que, embora o TARV diminua a inflamação crônica, ele não a elimina por completo, deixando as pessoas ainda vulneráveis a condições crônicas como doenças cardiovasculares e autoimunes.
As médicas reforçaram a importância de exames preventivos, como a mamografia, e acompanhamento médico frequente. “O diagnóstico precoce é essencial para garantir o bem-estar e aumentar as chances de cura. O acompanhamento regular é a chave para a detecção oportuna e para garantir que as mulheres com HIV estejam recebendo o suporte necessário para lidar com as vulnerabilidades adicionais que o vírus traz ao sistema imunológico”, destacou Dra. Naira.
Cuidados importantes e acompanhamento regular
Embora o foco do Outubro Rosa seja o câncer de mama, as especialistas lembram que as mulheres vivendo com HIV devem estar atentas a diversos aspectos da saúde, já que a inflamação crônica causada pelo vírus pode afetar diferentes órgãos e sistemas. Além da mamografia, exames regulares de outros tipos de câncer e condições crônicas são recomendados como parte do acompanhamento de saúde integral dessas pacientes.
Especialistas destacam a importância da parceria entre infectologistas e oncologistas no cuidado com mulheres vivendo com HIV. Segundo a infectologista Dra. Cláudia Mello, “a terapia antirretroviral (TARV) não traz impactos negativos à saúde das mamas. Pelo contrário, o acompanhamento médico regular, com pelo menos duas consultas anuais, reforça a necessidade de exames de rotina, incluindo o autoexame das mamas”. Ela acrescenta que, para as mulheres vivendo com HIV e com acesso adequado ao sistema de saúde, esse cuidado é até mais intensificado.
Para as mulheres com mais idade, especialmente após a menopausa, o acompanhamento ginecológico continua essencial. Dra. Cláudia salienta que “mesmo sem a menstruação, é crucial manter consultas regulares, fazer o autoexame das mamas e realizar exames de rotina com o ginecologista”.
Desigualdades
Outro ponto importante levantado pelas especialistas é o impacto da desigualdade social e racial no acesso à saúde. Dra. Cláudia aponta que mulheres negras enfrentam piores desfechos tanto no tratamento do câncer de mama quanto no HIV/aids. Isso ocorre devido à disparidade socioeconômica e à concentração dos serviços de saúde nas áreas mais ricas. “A maior parte dos negros vive em áreas periféricas, onde o acesso à saúde é mais limitado”, explica. Para ela, a solução passa por melhorar os serviços de saúde nas regiões periféricas e realizar uma busca ativa de casos, especialmente entre a população mais vulnerável.
Além disso, a discriminação nos serviços de saúde é outro obstáculo enfrentado pelas mulheres negras, que muitas vezes lidam com preconceitos tanto por sua cor quanto por viverem com HIV. “Precisamos monitorar de perto essas questões, para que essas mulheres não sejam ainda mais afastadas dos serviços de saúde”, enfatiza.
A ginecologista Dra. Naira Scartezinni complementa, destacando a relevância do diagnóstico precoce do câncer de mama, especialmente no contexto do Outubro Rosa. “Esse é o câncer mais incidente entre mulheres, excluindo os de pele, e por isso ganha um mês de conscientização”, afirma. Ela reforça que existem fatores modificáveis e não modificáveis no desenvolvimento do câncer de mama. Entre os primeiros, estão os hábitos de vida, como alimentação, consumo de álcool, prática de atividades físicas e controle do peso. “Mudanças nesses fatores podem reduzir o risco de desenvolver a doença em até 30%”, destaca Dra. Naira.
Autoexame
Em relação ao autoexame, Dra. Naira explica que, embora não seja mais tão incentivado quanto antes, a observação atenta das mamas ainda é importante. “Sugerimos que as mulheres observem as mamas no espelho, durante o banho ou ao se vestir. Caso notem alguma alteração, como mudança no formato, vermelhidão ou surgimento de veias, devem procurar um médico imediatamente”, orienta.
Ela conclui reforçando que as mudanças de hábitos, embora desafiadoras, são fundamentais. “É difícil mudar tudo de uma vez, mas sugerimos que as mulheres escolham um aspecto de sua vida para focar, seja a alimentação, a prática de exercícios ou o controle do tabagismo. Cada pequena mudança faz a diferença”, finaliza.
Dica de entrevista
Instituto de Infectologia Emílio Ribas
Tel.: (11) 3896-1200
Dra Naira Scartezinni
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Instagram @dranaira
contato@dranaira.com.br
Dra Claudia Mello
infectologistaclaudiamello@gmail.com
@infectologistaclaudiamello
RETIRADO NA ÍNTEGRA DE: https://agenciaaids.com.br/noticia/outubro-rosa-mulheres-vivendo-com-hiv-nao-tem-maior-risco-de-cancer-de-mama-mas-necessitam-de-acompanhamento-adequado-alertam-especialistas/